quinta-feira, 10 de maio de 2007

ESCRITA x ESTILO


“O fato se atêm em sua existência. A notícia é a significação do fato”.

O palestrante Manuel Chaparro faz crítica às normas que padronizam a escrita

Foto: Divulgação

Em defesa de um estilo mais opinativo e literário dos textos, Manuel Carlos Chaparro convidou os estudantes de comunicação a questionar a forma de escrita predominantemente funcionalista e burocrática de se fazer jornalismo.

Renomado professor da USP, Chaparro falou ao público sem qualquer outra ferramenta que não fosse o conteúdo proveniente de seu conhecimento e experiência. Não utilizou slides ou anotações. Levantou-se da mesa e elaborou questões tangentes aos gêneros em jornalismo impresso e os recursos a que se presta a escrita de acordo com as diferentes significações que pode produzir a pluralidade de seu uso.

Para o professor, o jornalismo é uma aptidão muito particular, e o ponto de vista do profissional sempre estará interpelando o texto que relata. Portanto, mais legítimo seria que o relator tivesse liberdade de emitir sua opinião do que ser tolido pelas padronizações de estilo.

Seguindo o raciocínio, Chaparro explica que “a notícia é produto da mente, e não produto dos fatos”. E afirma: “a opinião não contamina a informação”. Assim, muitas bandeiras levantadas no meio acadêmico em nome do que chamam de imparcialidade e objetividade são contraditas pela noção de legitimidade da profissão.

Para concluir o pensamento exposto na mesa, pode-se dizer que Manuel Chaparro fez uma crítica ferrenha e concisamente sustentada ao “embargo” à criatividade jornalística, e que a linguagem utilizada por este bloqueio reflete na forma de produzir ações na sociedade e interagir com a realidade, motivo que acentua a preocupação do professor quanto à função do jornalista como agente intermediário entre os fatos e suas significações.


Ao fim dos debates propostos na mesa redonda 1, Manuel Chaparro aceitou responder a um questionamento feito pela equipe do Cobertura CELACOM 2007:

Cobertura Celacom: Professor Chaparro, para que o jornalista se liberte de formas funcionalistas de noticiar, não seria necessário que no ambiente acadêmico o aluno tivesse mais liberdade para escrever ao invés de sofrer uma “desconstrução de estilo?”

Manuel Chaparro: “Um dos grandes problemas desse jornalismo que se ensina é o problema da cultura dos manuais. Os manuais são receituários e amarram a criatividade jornalística. Eu acho que os professores deviam seguir no rumo oposto, quer dizer, quem escreve, quem narra, tem que ser criativo, olhar o objeto e impor a essa observação sua própria perspectiva. Agora, tem que escrever bem, qualquer que seja a forma, qualquer que seja a escolha. Às vezes a técnica funciona, e funciona bem, porque ela está testada. Mas, sob o ponto de vista da criação, da nossa relação criativa com o texto, a técnica, as normas, os manuais devem ser contrariados. Esta é minha opinião”.
Por Juliana Recart

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